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Cupido Digital

Deslizas por perfis, à procura da conexão perfeita. Mas cuidado, que cupido digital está à espreita.

Procuras amor ou sexo, e decidiste que o melhor é rezar ao altar do cupido digital. Este querubim é malandro e brincalhão. Deves ter o clássico pensamento: ”eu preferia conhecer alguém numa festa ou por um grupo de amigos”, mas uma mistura potente de ansiedade social e inércia faz-te sucumbir à utilização de plataformas digitais.

Tu já estás no mercado, porém podes estar ainda de uma forma passiva, presumo que estejas a representar-te nas redes sociais. Criaste uma ideia do teu estilo de vida, do teu aspeto, das atividades que fazes e dos teus interesses. E com esta publicação da tua pessoa é te associado métricas pela primeira vez, quantos “followers”, quantos “likes” e qual o motivo de outras pessoas terem mais destas métricas ou menos. Tu vais formular uma avaliação de mercado onde te encaixas e qual é a tua “liga”. 

Agora que já fizeste a tua avaliação e estás decidido a avançar com uma estratégia mais ativa de encontrar um parceiro vais entrar no mundo de “casual dating”. Vais criar um perfil numa plataforma onde está implícito que o objetivo é uma relação ou sexo casual, ou seja, nesta vais esforçar-te para enaltecer a tua pessoa, as “melhores” fotos a descrição “perfeita” e começas o swiping. A curto termo consegues ter acesso direto a pessoas que estão numa situação semelhante, a longo termo ficas dessensibilizado, pessoas passam a ser umas quantas fotos e umas dezenas de caracteres. O relevo que torna a imagem duma pessoa interessante é destruído, tudo parece igual uma vez que te é servido sempre no mesmo formato… um ecrã.

Vamos assumir que conseguiste sair das trincheiras do amor digital e conseguiste criar uma ligação com alguém (flesh and bones), ainda não conseguiste fugir da influência deste cupido, ele agora apenas mudou de aspeto. Onde antes observavas opções de mercado agora o conteúdo vai explicar-te como deves interagir com o teu parceiro. Qual o tipo de atividades que devem fazer, como deve ser a vossa comunicação, que tipo de casal são, qual a vossa compatibilidade… a lista continua. Com isto ainda tens acesso a milhares de casais para poderes comparar a tua relação!

Imaginemos agora que aquele amor que tiveste e pensaste ser para a vida toda, honestamente não durou para sempre. O que acontece às sessões fotográficas? As inúmeras publicações com promessas dum “para sempre”? São questões pertinentes, como lidas com os recibos dum amor que já não lá está. Tens que ir higienizar as tuas redes, para representar o teu estado atual de uma forma genuína. Cada publicação é uma memória, passar por elas é doloroso.

Antes desta revolução de informação já existiam canais que distorciam a realidade das relações, nomeadamente a “old media” filmes e revistas onde podias acompanhar a relação dos “famosos”. Agora todos temos a oportunidade de ser um desses “famosos”, o que implica um tratamento de imagem, não sabes quem pode estar a ver. Este sentimento traduzi-se para as relações, temos um cuidado acrescido de como apresentamos a nossa relação. Já no que toca a seleção, outro síndrome da era em que vivemos revela-se, vais para dating apps como se fosses à Amazon mandar vir um parceiro, não é fácil encontrares alguém que tenhas uma ligação genuína. Mais ainda, cria um precedente de pouco esforço, que, o mais provável é trazer-te de volta à app para adquirir mais um produto.

Obrigado pela tua atenção.

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